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Resposta à missiva de S. Eminênicia Reverendíssima Dom Agnelo

 

MONSENHOR BRUNO MARIA SARTORI
SUPERIOR DA FRATERNIDADE SACERDOTAL DE SÃO PIO X

Às eminências, excelências, reverendíssimos padres e seminaristas da Fraternidade Sacerdotal de São Pio X, saudações e bênçãos!

Sua Eminência Reverendíssima, Dom Agnelo, endereçou-me uma missiva relativa ao comportamento de um dos monsenhores da nossa Fraternidade no grupo oficial do WhatsApp. Não vi na íntegra, pois não estou nele, e me justificarei do porquê ao fim desta mensagem.

Nesta missiva, foi me cobrado uma retratação do que o foi dito pelo Monsenhor Molski. Tendo eu lido uma parte da discussão, que me foi enviada, e, pelo que a missiva transmitiu, faria algumas repreensões ao monsenhor, porém, devo ressaltar que ele não estava errado no centro do que disse.

A única coisa que peço que o monsenhor se retrate é por chamar de hereges outros clérigos sem julgamento, pois creio que tenha sido algo temerário. Claro, ordeno caso o referido monsenhor não possa provar tais alegações de heresia. Decididamente, porém, peço que se retrate de seu jeito inflamado de falar, que é incorreto.

Não posso deixar de notar como Sua Eminência disse que a diferença entre nós e o restante do clero é uma "divergência reside na visão pastoral". Não, não divergimos em matéria de "pastoral", seja qual for o significado que é atribuído nesta palavra. Divergimos em doutrina, objetivamente. Nós defendemos o Reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo nas sociedades, o fim do estado laico e a instauração de um estado católico, e todas as consequências disso. Estamos com Leão XIII contra a "liberdade religiosa".

Seria muito curioso ver uma tentativa dos clérigos partidários do Concílio Vaticano II tentar conciliar estas doutrinas pre-conciliares contra o estado laico e liberdade religiosa com a Dignitatis Humanae. Seria mais curioso ainda tentar conciliar a Gaudium et Spes com a Syllabus, uma vez que o próprio Cardeal Ratzinger (antes de se tornar Papa) disse que tal documento era uma "anti-Syllabus".

Como a mesma Eminência disse no grupo, a Quo Primum Tempore é "uma bula de 1570 obviamente não se aplica a nossa realidade". Esta constatação já demonstra o abismo doutrinário que existe entre o pensamento reinante no clero, e o pensamento da FSSPX. Tratarei desta constatação infame em outra publicação, que será mandada no grupo junto desta.

Outra constatação ridícula foi a de dizer que o monsenhor lhes acusou de usar de magia negra, por empregar a palavra "ressuscitado" de forma figurativa, que, no contexto do jogo, significa trazer de volta para o clero alguém que estava inativo por alguma razão. Me surpreende, com todo respeito à Eminência, não ter compreendido a figuratividade da expressão, pois, em outro debate com a Eminência, havia me dito muitas coisas subjetivas, dando mil interpretações para todas as coisas que dizia. Esta subjetividade lhe permitiu até não conseguir reconhecer, de forma simples, a cor de um barrete, dizendo que "existiam barretes de outras cores".

Caríssimos, devemos nos lembrar do porquê o código de direito canônico existe. Ele não existe para ser usado de forma tirânica, para excomungar pessoas sem nem executar julgamentos prévios, mas para aplicar a justiça. Talvez para alguns, e deixo claro que isso não é uma acusação a S. E. R. Dom Agnelo, seja difícil entender isso, pois nosso clero está cheio de ateus, membros de seitas e viciados em alguns pecados que não citarei por pudor.

Concluo dizendo que a santa obediência não consiste em obedecer cegamente, pois isso não é uma virtude, mas uma corrupção da virtude. É cegueira, pois não permite ver a ordem das coisas. A autoridade não existe para ser obedecida por si só, mas ela decorre totalmente de Nosso Senhor Jesus Cristo, caso ela se volte contra ele, simplesmente não podemos obedecer. Non possumus.

Vale citar o Concílio Vaticano I, este sim de Fé reta, que a mesma Eminência referida disse que "descentralizou" o poder papal, enquanto o Vaticano II teria "centralizado" (gostaria de saber como que concilia esta afirmação com o fato que o Vaticano II distorceu doutrina sobre jurisdição dos bispos) a autoridade papal:

"[...] Pois o Espírito Santo não foi prometido aos sucessores de S. Pedro para que estes, sob a revelação do mesmo, pregassem uma nova doutrina, mas para que, com a sua assistência, conservassem santamente e expusessem fielmente o depósito da fé, ou seja, a revelação herdada dos Apóstolos. E esta doutrina dos Apóstolos abraçaram-na todos os veneráveis Santos Padres, veneraram-na e seguiram-na todos os santos doutores ortodoxos, firmemente convencidos de que esta cátedra de S. Pedro sempre permaneceu imune de todo o erro, segundo a promessa de Nosso Senhor Jesus Cristo feita ao príncipe dos Apóstolos: Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos [Lc 22, 32]."
Constituição Dogmática Dei Filius, Concílio Vaticano I. Grifos meus.

Recomendo que escutem as conferências dadas pelo padre Gregorius Hesse, doutor em direito canônico (de verdade, um real conhecedor de direito canônico) e em teologia pela Angelicum, especialmente as que ele fala sobre os documentos conciliares e sobre o que realmente é a obediência, e até onde ela vai. Nada de pretensos conhecedores de direito canônico, mas um homem realmente formado no assunto, que dedicou sua vida para isto (e sendo um verdadeiro clérigo, com graças de estado para isso).

Nós da Fraternidade rejeitamos o Concílio Vaticano II, sua reforma litúrgica protestantizada, seus sacramentos bastardos e sua doutrina torpe, subjetiva e opaca, em contraste total com a doutrina pré-conciliar, completamente cristalina, objetiva e dogmática. Como a própria Eminência diz: "A linguagem da Igreja já não é mais assim faz tempo..." (dito em debate pessoal comigo, talvez não com estas palavras, mas certamente com este sentido). Diz o Monsenhor Bastos um fato que lhe escandalizou muito. O Papa, três meses antes do concílio, para o clero as constituições e decretos preparados, e os dezessete bispos holandeses que receberam eles, chamaram para assessoria o padre Schillebeeckx, nominalmente condenado pelo Santo Ofício por defender as teses modernistas que São Pio X condenara.

A hierarquia holandesa, por influência dele, repeliu as quatro constituições dogmáticas, "As fontes da Revelação", "A ordem moral cristã", "A castidade, casamento, família e virgindade", só aceitando o esquema da liturgia. Suspeito, não?

Por fim, ressalto o motivo pelo qual não estou no grupo do WhatsApp: não me vejo obrigado a permanecer em um grupo onde os membros da Fraternidade são constantemente hostilizados e provocados, onde gigantescas asneiras teológicas são arrotadas, onde não há respeito algum, onde reina a desordem. Prefiro, para conservar a mansidão e não me expor aos erros e asneiras, estar fora do grupo.

Reitero nossa comunhão com o Papa Gregório I, do qual não nos separamos por pensarmos assim, já que reconhecemos que é Sumo Pontífice, mas não podemos acatar as ordens que são contrários aos princípios católicos.

Monsenhor Bruno Maria Sartori.